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Relações Tóxicas e Dependência Emocional: Quando o Amor Machuca

  • Angelo A. Lopes
  • 2 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de jul.

Nem sempre é fácil reconhecer quando um relacionamento nos faz mal. Muitas vezes, a dor vai se instalando aos poucos — uma crítica aqui, um controle disfarçado de cuidado ali, um silenciamento constante, e de repente, a pessoa se vê anulada, com medo de desagradar, buscando aprovação a qualquer custo. E mesmo percebendo o sofrimento, não consegue sair.

É nesse cenário que surge o que chamamos de relação tóxica, geralmente marcada por desequilíbrios de poder, manipulações emocionais e uma forte dependência afetiva. E é importante dizer: isso pode acontecer com qualquer pessoa. Homens e mulheres, em diferentes tipos de relação — afetiva, familiar ou até profissional.


Quando o Amor Deixa de Ser Amor


Relacionamentos saudáveis são baseados em respeito, liberdade e crescimento mútuo. Já nas relações tóxicas, o amor costuma vir acompanhado de culpa, medo, humilhação, controle e insegurança. A pessoa passa a duvidar de si mesma, a viver sob constante tensão, e a tentar se moldar para não “perder” o outro.

Frequentemente, ouvimos em consultório frases como:

  • “Mas ele(a) não é sempre assim…”

  • “Eu sei que tem coisas boas, não consigo deixar…”

  • “Se eu mudar, talvez ele(a) mude também…”

Esses discursos são comuns em pessoas que estão emocionalmente dependentes, ou seja, que colocam no outro a fonte de sentido e segurança para suas vidas. A autoestima fica tão abalada que a simples ideia de romper ou desagradar o parceiro parece impensável.


De Onde Vem Essa Dependência Emocional?


Na psicanálise, compreendemos que ninguém se torna emocionalmente dependente por acaso. Por trás dessa dificuldade de romper com o que faz mal, geralmente existe uma história marcada por carências afetivas, inseguranças, medo de abandono e uma busca inconsciente por “consertar” algo que faltou lá atrás.

Muitas vezes, a pessoa teve na infância um ambiente afetivo instável, com figuras cuidadoras ausentes, controladoras ou imprevisíveis. A criança, para sobreviver emocionalmente, aprende a agradar, a se moldar ao outro e a buscar amor a qualquer custo. E, na vida adulta, repete esse padrão — mesmo que ele traga sofrimento.

A relação tóxica, nesse caso, não começa com o outro: ela se repete como uma tentativa inconsciente de reparar algo antigo, não elaborado.


Por Que é Tão Difícil Sair?


Porque, mesmo que racionalmente a pessoa saiba que aquilo não faz bem, afetivamente ela está presa a um ciclo de expectativas, culpa e esperança. Há sempre a fantasia de que o outro vai mudar, de que “no fundo, ele me ama”, ou de que “é só uma fase”.

Além disso, em muitos casos, existe um movimento de isolamento: a pessoa se afasta de amigos, da família, da própria vida. Fica emocionalmente refém, sentindo que não tem para onde ir ou com quem contar. E isso torna a saída ainda mais difícil — e assustadora.


A Terapia como Caminho de Reconexão


A psicoterapia não oferece fórmulas prontas. Mas ela pode ser um espaço seguro para que a pessoa volte a se escutar, a se reconhecer como sujeito de desejos e limites próprios. Mais do que romper com o outro, trata-se de reencontrar a si mesmo.

Na terapia, é possível:

  • Compreender os mecanismos que alimentam a dependência afetiva.

  • Trabalhar o medo da solidão e do abandono.

  • Fortalecer a autoestima e a autonomia emocional.

  • Elaborar experiências afetivas do passado que ainda ecoam nas escolhas atuais.

  • Construir, com o tempo, novos modelos de relacionamento.

Relações tóxicas não se curam com força de vontade. Elas exigem coragem, suporte e um olhar profundo para a própria história. A boa notícia é que é possível sair desse ciclo e construir vínculos mais saudáveis — com o outro e, principalmente, consigo.


Para Encerrar: Se Dói, Não É Amor


Se você se reconhece nesse texto ou conhece alguém que esteja vivendo algo parecido, saiba: você não está sozinho(a). Buscar ajuda não é fraqueza — é um ato de cuidado, de maturidade e de reconexão com a própria vida.

Amor não deve ser controle, anulação ou sofrimento constante. Amor saudável é aquele que nos permite ser quem somos, crescer e existir com liberdade e respeito. E quando isso não acontece, talvez seja hora de olhar para dentro — e começar um novo caminho.

 

 
 
 

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