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Fome emocional e o sucesso da cirurgia bariátrica

  • Foto do escritor: Angelo Lopes
    Angelo Lopes
  • 24 de set. de 2021
  • 3 min de leitura

Muitos pacientes procuram o atendimento psicológico em busca do laudo para se submeterem ao procedimento cirúrgico bariátrico, porém chegam ao consultório acreditando que terão seus problemas relacionado a obesidade resolvidos, após a intervenção cirúrgica. Mas, na verdade, o funcionamento não é bem assim. O procedimento cirúrgico é só "a ponta do iceberg" e o processo de emagrecimento efetivamente só está começando. Caberá ao cirurgião decidir qual a melhor técnica a ser utilizada para a intervenção, o que, por sua vez, estará diretamente relacionada a quanto peso o paciente precisa perder.


O paciente já sairá do hospital pesando menos e em semanas o resultado se torna visível. As roupas começam a ficar mais folgadas, a autoestima melhora, algumas comorbidades começam a desaparecer e a vida volta a sorrir para ele. Para chegar a esse resultado é necessário muita dedicação, resiliência e força de vontade, afinal a bariátrica não é um processo milagroso que você faz e esquece, ela exige uma contrapartida do operado: exige um grande comprometimento que visa a manutenção e a continuidade do emagrecimento, garantindo assim o sucesso do procedimento.


Mas qual seria esse “grande comprometimento”? Qual seria essa “contrapartida”?


Iremos falar sobre isso a partir de agora.


O sucesso da bariátrica está intimamente ligado à mudança de hábitos. Não adianta se submeter a intervenção cirúrgica e continuar vivendo da mesma forma que antes. Mudar de hábitos não é uma coisa fácil, geralmente a tendência do ser humano é se repetir, mesmo que isso lhe traga resultados não tão satisfatórios. Possuir informações e ser orientado de como deve viver após a cirurgia bariátrica é uma coisa, agora aplicar estas informações na vida e levá-las a sério é algo completamente diferente. A informação só se torna conhecimento quando a aplicamos em nossas vidas, quando a tiramos do campo teórico e a colocamos em prática.


Inicialmente, nas primeiras semanas, o paciente tende a seguir à risca as informações recebidas do acompanhamento nutricional, procura fazer tudo conforme orientado, se alimenta adequadamente, na quantidade certa, na hora certa e caso venha a desobedecer, a resposta do corpo é imediata. O estômago foi transformado, não comporta o mesmo volume de alimentos e forçá-lo, além de colocar a vida em risco, pode desencadear uma série de situações desconfortáveis e dolorosas que tendem a levar o paciente a pensar duas vezes antes de repetir o feito.


Porém, mesmo assim, alguns pacientes se deparam com um desejo incontrolável de comer. Em casos extremos, esse desejo compulsivo de se alimentar, além de provocar dores, pode levar alguns pacientes a correr riscos de morte ou até mesmo a procura de outros caminhos que possam substituir e saciar o desejo de comer, mesmo que o corpo “físico” não esteja sentindo falta de alimentos.


Nominamos esta vontade incontrolável de comer de “fome emocional”. Geralmente ela sinaliza muitas coisas, inclusive é um gatilho que pode ter levado a pessoa a engordar e consequentemente, a intervenção bariátrica.


Não é tão difícil identificar a fome emocional. Como o próprio nome diz, acontece quando surge a necessidade de comer a partir de emoções, sejam elas boas ou ruins: alegria, tristeza, estresse, frustrações, depressão, raiva, entre outras. O comer se manifesta como uma espécie de alívio instantâneo, como uma forma de fugir ou de lidar com os sentimentos e a comida geralmente se torna um atalho fácil e prazeroso.


Esses caminhos aprendidos não mudarão, apenas porque o paciente se submeteu ao procedimento bariátrico, pelo contrário, se torna superimportante o acompanhamento psicológico após a intervenção cirúrgica. Por mais que este comportamento possa ter sido identificado na avaliação psicológica, na elaboração do laudo, manter-se em terapia, em muitos casos, pode simbolizar o sucesso ou o fracasso de muitos procedimentos.


Estudos apontam que alguns pacientes que se submeteram a bariátrica, trocam a compulsão por comida por outras substâncias, o que é na verdade uma substituição de sintomas. A intervenção feita no corpo pela cirurgia bariátrica, não fará com que o paciente mude seus hábitos, na verdade, ela simboliza apenas um novo começo, um marco, uma nova oportunidade para que ele possa parar e se conhecer melhor, compreender o porquê dos seus sintomas, entender os caminhos que o levaram a obesidade mórbida, ressignificar seus valores e lidar melhor com suas emoções, frustações e mecanismos de compensações.


O corpo reflete nossos conteúdos psicológicos, eles coexistem o tempo todo. O que não resolvemos na mente, resolvemos no corpo e esse é o caminho natural das doenças psicossomáticas. A intervenção bariátrica é uma importante oportunidade para você corrigir o corpo, mas é na sua mente que está a chave que pode garantir a sustentação desta conquista.


Por isso, cuide da sua cabeça, o corpo agradece.

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Clínica Iluminare Psicologia

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